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domingo, dezembro 15, 2013

ASSASSINATO DE REPUTAÇÕES







SEGREDOS SÓRDIDOS DO PODER







APARELHO CLANDESTINO – Romeu Tuma Junior: “Recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo”


A Secretaria Nacional de Justiça é um posto estratégico no organograma de poder em Brasília. Os arquivos do órgão guardam informações confidenciais de outros países, listas de contas bancárias de investigados e documentos protegidos por rigorosos acordos internacionais. Cercado por poderosos interesses, esse universo de informações confere ao seu controlador acesso aos mais restritos gabinetes de ministros e a responsabilidade sobre assuntos caros ao próprio presidente da República.

Durante três anos, o delegado de polícia Romeu Tuma Junior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos.

Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder – um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que são considerados inimigos. Entre 2007 e 2010, período em que comandou a secretaria, o delegado testemunhou o funcionamento desse aparelho clandestino que usava as engrenagens oficiais do Estado paia fustigar os adversários.

As revelações de Tuma sobre esse lado escuro do governo estão reunidas no livro Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado (Topbooks: 557 páginas; 69,90 reais), que chega às livrarias nesta semana. Lançado no momento em que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, enfrenta acusações de ter usado a estrutura da pasta para vazar detalhes de uma investigação que comprometeria líderes da oposição, o livro mostra que esse procedimento, mais que uma coincidência, é um método dos petistas para perseguir e difamar desafetos do governo.

Segundo o ex-secretário, a máquina de moer reputações seguia um padrão. O Ministério da Justiça recebia um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do inimigo a ser destruído. A ordem era abrir imediatamente uma investigação oficial. Depois, alguém dava uma dica sobre o caso a um jornalista. A divulgação se encarregava de cumprir o resto da missão. Instado a se explicar, o ministério confirmava que, de fato, a investigação existia, mas dizia que ela era sigilosa e ele não poderia fornecer os detalhes. O “investigado”, é claro, negava tudo. Em situações assim, culpados e inocentes sempre agem da mesma forma. O estrago, porém, já estará feito.

No livro, o autor apresenta documentos inéditos de alguns casos emblemáticos desse modus operandi que ele reuniu para comprovar a existência de uma “fábrica de dossiês” no coração do Ministério da Justiça.

Uma das primeiras vítimas dessa engrenagem foi o governador de Goiás,Marconi Perillo (PSDB). Senador à época dos fatos, Perillo entrou na mira do petismo quando revelou à imprensa que tinha avisado Lula da existência do mensalão. O autor conta que em 2010 o então ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto entregou em suas mãos um dossiê apócrifo sobre contas no exterior do tucano. As ordens eram expressas: Tuma deveria abrir uma investigação formal. O trabalho contra Perillo, revela o autor, havia sido encomendado por Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete do presidente Lula. Contrariado, Tuma Junior refutou a “missão” e ainda denunciou o caso ao Senado. Esse ato, diz o livro, foi o primeiro passo do autor para o cadafalso no governo, mas não impediu novas investidas.

A fábrica de dossiês voltou então a sua artilharia contra o então senador Tasso Jereissati (PSDB), severo opositor de Lula no Congresso. A fórmula era a mesma. Tuma Junior relata que foi chamado ao Congresso para uma conversa com o então senador Aloizio Mercadante (PT). No encontro, recebeu dele um pen drive e um pedido para que investigasse Jereissati. O autor abriu o dispositivo e constatou que se tratava de outro dossiê apócrifo. O livro conta que até o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), também chefiado por Tuma Junior, chegou a ser usado clandestinamente na tentativa de obter informações desabonadoras sobre despesas sigilosas da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

Assassinato de Reputações é um livro cujas revelações não podem simplesmente ser varridas para debaixo do tapete. Seu autor afirma relatar apenas fatos e situações vividas por ele próprio. E é rigoroso. Não se vale de depoimentos de terceiros nem passa adiante boatos ou insinuações. “Eu conto aquilo que vi”, disse Tuma Junior à reportagem. Ele viu muita coisa. Seu livro traz documentos que deixam o governo Lula em péssima luz. Alguns deles mostram que o governo agiu para engavetar uma investigação que identificara uma suposta conta do mensalâo no exterior.

O ex-secretário revela que todos os ministros do Supremo Tribunal Federal foram grampeados ilegalmente pela Polícia Federal e pela Abin em 2007. Um dos capítulos é dedicado ao ainda misterioso assassinato do prefeito petista Celso Daniel, em 2002. Tuma Junior reproduz um diálogo entre ele e Gilberto Carvalho no qual o ministro confessa que entregava o dinheiro desviado da prefeitura de Santo André nas mãos do mensaleiro José Dirceu. O autor se convenceu de que Celso Daniel foi morto em uma operação de queima de arquivo.

Idealizado inicialmente para desconstruir a campanha de difamação de que o autor foi vítima (Tuma foi demitido do governo sob a acusação de manter relações com contrabandistas), o livro, escrito em parceria com o jornalista Cláudio Tognolli, professor de duas universidades em São Paulo, pescou mais fundo das memórias do autor: “Entrevistei Tuma Junior seis dias por semana durante dois anos. Ele queria uma obra baseada na revelação de fatos, queria que a publicação do livro o levasse ao Congresso para depor nas comissões, onde ele poderia mostrar documentos que não tiveram lugar no livro na sua inteireza”. Fica a sugestão.





ENTREVISTA DE ROMEU TUMA










Por que Assassinato de Reputações?

Durante todo o tempo em que estive na Secretaria Nacional de Justiça, recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo. 0 PT do Lula age assim. Persegue seus inimigos da maneira mais sórdida. Mas sempre me recusei. Tentaram me usar para esquentar um dossiê contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, só porque ele avisou o Lula da existência do mensalão. Depois, quiseram incriminar o ex-senador Tasso Jereissati servindo-se do meu departamento para forjar uma investigação sobre contas no exterior. Havia uma fábrica de dossiês no governo. Sempre refutei essa prática e mandei apurar a origem de todos os dossiês fajutos que chegaram até mim. Por causa disso, virei vítima dessa mesma máquina de difamação. Assassinaram minha reputação. Mas eu sempre digo: não se vira uma página em branco na vida. Meu bem mais valioso é a minha honra.

De onde vinham as ordens para atacar os adversários do PT?

Do Palácio do Planalto, da Casa Civil, do próprio Ministério da Justiça… No livro, conto tudo isso em detalhes, com nomes, datas e documentos. Recebi dossiês de parlamentares, de ministros e assessores petistas que hoje são figuras importantes no atual governo. Conto isso para revelar o motivo de terem me tirado da função, por meio de ataque cerrado à minha reputação, o que foi feito de forma sórdida.Tudo apenas porque não concordei com o modus operandi petista e mandei apurar o que de irregular e ilegal encontrei.

O senhor queria denunciar a fábrica de dossiês do PT ou atingir o próprio partido quando escreveu o livro?

Tem muita gente do PT que eu respeito. Não escrevi este livro para atacar o PT. 0 maior problema do PT está nas facções do partido. Muitas vezes por disputas internas é que surgem os dossiês. As disputas são legítimas, mas fazer dossiê é incompatível com qualquer prática republicana. Levantar falso testemunho contra alguém é uma prática violenta que enoja. 0 pior é que as coisas continuam exatamente iguais. Se você trocar os personagens do livro, vai ver que os fatos continuam ocorrendo da mesma forma. É só olhar o que está acontecendo com o Cade nesse escândalo do metrô de São Paulo.

O Cade era um dos instrumentos da fábrica de dossiês?

Conto isso no livro em detalhes. Desde 2008, o PT queria que eu vazasse os documentos enviados pela Suíça para atingir os tucanos na eleição municipal. 0 ministro da Justiça, Tarso Genro, me pressionava pessoalmente para deixar isso vazar para a imprensa. Deputados petistas também queriam ver os dados na mídia. Não dei os nomes no livro porque quero ver se eles vão ter coragem de negar.

O senhor é afirmativo quando fala do caso Celso Daniel. Diz que militantes do partido estão envolvidos no crime.

Aquilo foi um crime de encomenda. Não tenho nenhuma dúvida. Os empresários que pagavam propina ao PT em Santo André não queriam matar, mas assumiram claramente esse risco. Era para ser um sequestro, mas virou homicídio.

Por que o senhor sabe tanto sobre a morte de Celso Daniel?

Eu era o delegado da área onde o crime aconteceu. Fui o primeiro a chegar ao local quando o corpo foi encontrado. Tanto que fui eu que reconheci oficialmente que era o Celso Daniel e mandei abrir a investigação para apurar a morte. Só que, naquela época, nem o PSDB nem o PT quiseram prolongar o caso por causa das eleições. Fui afastado das investigações, mas apurei tudo. Eu encontrei o carro e fotografei os cabelos que, depois, os peritos disseram que eram pelos de cachorro. Mas eu sei que não eram. Só que nunca quiseram apurar a fundo. Ponho no livro o que descobri e não foi considerado.

O ministro Gilberto Carvalho disse ao senhor que havia um esquema de cobrança de propina na prefeitura?

Foi num momento de emoção, quando eu estava sob fogo cruzado na imprensa e fui falar com o Gilberto Carvalho. Desabafei, chorei e ele começou a chorar comigo. Aí ele falou: “Veja, Tuma, quanto fui injustiçado no caso Celso Daniel. Quando saiu aquela história de que havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa-fé, procurei a família dele para levar um conforto. Fui dizer que o Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, e que todo recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições”. Fiquei paralisado quando isso aconteceu. Pensei comigo: estou ouvindo uma confissão mesmo?

Com que convicção o senhor afirma que todos os ministros do STF foram grampeados?

Minha convicção está em tudo o que vivi e descobri conversando com alguns personagens dentro do governo na época. Eu não tenho dúvida de que os ministros foram grampeados. Se isso for investigado a fundo, com seriedade, será provado facilmente.

O senhor também diz no livro que descobriu a conta do mensalão no exterior.

Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido de cooperação internacional do governo brasileiro às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta do José Dirceu no Caribe. Nesse pedido, o governo solicitava informações sobre a conta não para investigar o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima de calúnia, porque a Veja tinha publicado uma lista do Daniel Dantas com contas dos petistas no exterior. O que o governo não esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro recua? É um absurdo.

Quem engavetou a investigação?

Eu levei o processo para o Tarso Genro e disse: olha, tem de apurar isso. Mas, quando veio essa resposta de Cayman, os caras pararam tudo. Isso foi para a gaveta da Polícia Federal e do ministro Tarso Genro. Estou esperando até hoje o retorno. Eu tenho certeza de que era a conta do mensalão. Eu publico no livro o documento para dizer isto: o governo não deixou investigar isso em 2007.

No livro, o senhor escreve que um dos réus confirmou que essa era a conta do mensalão.

Não posso revelar o nome, mas, quando ele soube, disse-me: “Você matou na mosca. Ainda bem que você não estava investigando isso”. Seis meses depois da minha demissão, esse personagem me disse que eu tinha caído por mandar investigar a conta do mensalão, a conta que pagava as viagens para Portugal. Eu falei para ele: os caras vão mandar me matar.

Como surgiu a ideia de fazer o livro?

Quando a imprensa publicou todos aqueles fatos inverídicos sobre o meu envolvimento com uma suposta máfia chinesa, busquei toda as instâncias para me defender, mas não consegui contar a minha versão. Fui defenestrado do governo por fatos baseados numa investigação arquivada na qual eu não tinha sido denunciado nem processado. Quando aconteceu tudo aquilo comigo na Secretaria Nacional de Justiça, percebi que não teria espaço para me defender em nenhuma instância, muito menos no governo ou na própria Justiça. Conversando com dois jornalistas, meus conhecidos e amigos, resolvi escrever o livro para contar a minha história sobre os fatos que vi em três anos de governo, para explicar por que isso aconteceu comigo, por que tentaram me defenestrar, por que acabaram tentando assassinar a minha reputação.

É uma espécie de vingança pessoal?

De forma alguma. Quem ler o livro vai perceber que o que escrevo são fatos. Eu precisava explicar por que cheguei ao governo, por que havia a confiança do presidente Lula em mim. Só dá para fazer isso contando as histórias que vivi com as pessoas, os fatos, e como a minha reputação foi construída para depois ser destruída. 0 livro é uma prestação de contas às pessoas que me querem bem, que sempre me honraram com sua confiança. É a forma que encontrei de tornar pública a minha história para aqueles que têm o interesse de conhecer esse retrato da minha vida profissional. Para que eles possam compreender o motivo pelo qual virei alvo do governo do PT.

As pessoas podem interpretar como vingança ou ressentimento, não?

É lógico que tem a mágoa. Eu vi meu pai, o senador Romeu Tuma, morrer por causa do que fizeram comigo no governo. Mas isso é diferente de vingança. Eu descrevo fatos no livro, conto a minha história, exponho a minha vida e até corro riscos. Vingança não se faz assim. Eu não seria burro de praticar uma vingança dessa forma. As colocações podem ser fortes, mas é o meu jeito. Não tem nada ali que seja leviandade. São fatos verdadeiros.

Por que o senhor decidiu fazer essas revelações só agora?

De tudo que vivi em três anos de governo, não há nada relatado no livro que eu não tenha denunciado imediatamente aos órgãos adequados. O livro só vai ser publicado agora porque demorei a escrever e porque precisei me aposentar da carreira de Estado para ter liberdade de tornar públicos os fatos sem ser acusado de oportunismo político ou eleitoral. Eu sei que neste momento vão querer me atacar, dizer que estou a serviço de interesses escusos. Mas não sou de me prestar a servir ninguém. Quem me conhece sabe que falo o que penso e presto contas do que faço.

O senhor afirma no livro que o ex-presidente Lula foi informante da ditadura. É uma acusação muito grave.

Não considero uma acusação. Quero deixar isso bem claro. O que conto no livro é o que vivi no Dops. Eu era investigador subordinado ao meu pai e vivi tudo isso. Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir no sofá da sala do meu pai. Presenciei tudo. Conto esses fatos agora até para demonstrar que a confiança que o presidente tinha em mim no governo, quando me nomeou Secretário Nacional de Justiça, não vinha do nada. Era de muito tempo. O Lula era informante do meu pai no Dops.

O senhor tem provas disso?

Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a um certo informante de codinome Barba. Era esse o codinome dele. Os relatos do Lula motivaram inúmeras operações e fundamentaram vários relatórios de inteligência para evitar confusões maiores com os movimentos na época. Ademais, o livro por si só é uma prova. Existe na área policial prova documental e prova testemunhal. Eu sou uma testemunha viva. Não tem nada contado no livro que eu não tenha vivido. Ninguém me contou aquilo. Eu vivi e agora estou relatando. E digo mais: como informante do meu pai no Dops, o Lula prestou um grande serviço naquele período. Eu quero deixar isso muito claro. Graças às informações que o Lula prestava ao meu pai, muitos relatórios foram produzidos, muitas operações foram realizadas.

Uma afirmação dessas certamente vai gerar protestos e processos.

É uma forma de interpretação, mas eu não acho. Acho que o Lula prestou um grande serviço ao país. Por se portar dessa forma, ele chegou aonde chegou. Sabe essa violência nas manifestações de hoje com black blocs? Se fosse no tempo do Dops com o Lula, não se criava. O Lula combinava tudo com o Tumão (Romeu Tuma, ex-chefe do Dops e ex-senador). Quando fazia as manifestações dos metalúrgicos, era tudo tranquilo. O Lula conseguia manter a manifestação sob o controle dele.

Além do senhor e do próprio Lula, quem mais sabe dessa história?

Meu pai está morto. Então, só eu e ele. Talvez alguma pessoa próxima a ele saiba. Digo e repito isso em público, pessoalmente e até no Estádio do Pacaembu. Quero que o Lula se sente na minha frente e diga que é mentira. Tenho fotos com ele desde a época do Dops. Ele e o meu pai tinham uma relação muito sigilosa. Se isso vazasse, os dois estariam mortos.








PAZ & BEM !!!




terça-feira, novembro 23, 2010

NO ESTADÃO




VALE À PENA LER



 

 
UM CRIME DENTRO DO OUTRO

 

 
O desfecho do julgamento do primeiro dos sete acusados do sequestro e assassínio do então prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002, fez justiça à convicção do Ministério Público de que ele não foi vítima de um crime comum, como sustenta a Polícia paulista, mas de um crime político - encomendado, no dizer do promotor Francisco Cembranelli, "por uma corja de malfeitores, verdadeira máfia, alojada na administração petista".




O conselho de sentença que considerou culpado o réu Marcos Roberto Bispo dos Santos, condenado a 18 anos de prisão em regime fechado, acolheu por unanimidade todos os seis quesitos formulados por Cembranelli. Um deles pedia que o júri, composto por cinco mulheres e dois homens reunidos no Fórum de Itapecerica da Serra, na quinta-feira, se manifestasse sobre a tese de que o crime foi cometido mediante paga e promessa de recompensa.



É de fato inverossímil que a captura de Celso Daniel tenha sido iniciativa de uma quadrilha especializada em sequestrar pessoas de posses para obtenção de resgate. Na versão da Polícia, os sequestradores teriam confundido o prefeito com um empresário que atuava na Ceagesp. Decidiram executá-lo ao descobrir, pelo noticiário da TV, a identidade de sua presa. À época, Daniel coordenava o programa de governo do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva e era tido já então como nome certo para o seu eventual Ministério.



Ao percorrer diligentemente os meandros da tragédia, o Ministério Público encontrou um crime dentro de outro. Tratava-se do esquema de cobrança de propina de empresas que prestavam ou desejassem prestar serviços ao município. A operação - de que o prefeito estava perfeitamente a par - era capitaneada pelo seu ex-segurança e amigo próximo Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Daniel se insurgiu contra o esquema apenas quando soube que parte do butim era embolsada por Sérgio Gomes e associados. Todo o produto das extorsões deveria ser repassado ao PT para forrar o caixa 2 do partido.



O peculiar senso ético de Daniel - que decerto ele compartilhava com muitos companheiros, dado o que se passava e viria a se passar em outras prefeituras controladas pela legenda - custou-lhe a vida. Os procuradores apuraram que, diante da decisão do prefeito de pôr fim ao pedágio espúrio no município, Gomes resolveu eliminá-lo. A Polícia, embora dissociasse uma coisa da outra, não contestou as evidências de corrupção recolhidas pelo Ministério Público. Nem poderia.



Conforme o testemunho dos irmãos de Daniel, o Sombra entregava o dinheiro ao secretário de governo de Santo André, que se incumbia de levá-lo ao presidente do partido. O secretário era Gilberto Carvalho, que viria a ser chefe de gabinete do presidente Lula e seu mais íntimo colaborador. Ele figura como réu em um processo por improbidade administrativa no município. O presidente do PT era o deputado José Dirceu, que viria a ser o "capitão do time" de Lula. Além de ter cassado o seu mandato parlamentar, está sendo processado como principal articulador do mensalão.



No julgamento dessa semana, o promotor destacou que as somas extorquidas em Santo André se destinavam a abastecer campanhas petistas, "inclusive na primeira eleição do presidente Lula". Segundo ele, "o PT depositava todas as fichas naquela campanha. Os recursos passaram a ser captados de maneira mais portentosa". Ele abordou ainda um aspecto do caso que até aqui não parecia claro: por que, antes de matá-lo, os sequestradores torturaram o prefeito nos dois cativeiros para onde foi levado? A sua execução não seria suficiente para o que o Sombra teria pretendido?



Daniel foi seviciado, apontou Cembranelli, para que revelasse onde estava um dossiê, presumivelmente compilado por ele, "com informações contra integrantes do PT". Não se sabe o que foi feito da papelada. Mas o promotor lembrou que Gilberto Carvalho foi visto em companhia de outro petista, o vereador Klinger Sousa, saindo do apartamento do prefeito no dia seguinte ao sequestro. "Celso Daniel foi varrido por uma trama macabra", afirmou Cembranelli. "Virou obstáculo, um estorvo." Talvez não apenas para os Sombras.






(  Editorial publicado no ESTADÃO no último domingo,21 de novembro )
 


 

 
 

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sexta-feira, junho 04, 2010

O PT É ISTO AÍ



O drama dos exilados Bruno José Daniel e Marilena Nakano, irmão e cunhada do ex-prefeito Celso Daniel, que por medo de serem também assassinados vivem na França.
















EXÍLIO

Bruno e Marilena sobrevivem fazendo bicos na capital francesa

e moram de favor em uma casa na periferia

A ditadura militar acabou há 25 anos, mas, por mais estranho que pareça, ainda existem cidadãos brasileiros vivendo no exílio. É o caso de uma família de Santo André, no ABC paulista, que mora em endereço sigiloso num subúrbio de Paris, desde 2006, para fugir de ameaças de morte. Bruno José Daniel Filho, 57 anos, irmão do prefeito assassinado Celso Daniel, e a mulher, Marilena Nakano, 62 anos, são cidadãos legalmente refugiados na França, onde sobrevivem com trabalhos temporários. Apesar de o Brasil viver o mais longo período democrático de sua história, eles apresentaram documentos ao governo francês nos quais afirmam correr risco no País. Assim conseguiram autorização para morar na França com os três filhos. Por insistir que Celso Daniel, assassinado há oito anos, foi vítima de um crime político e, por encomenda, foi torturado e morto, o casal sofreu pressões e preferiu enfrentar as dificuldades da vida no exílio. “Aqui em Paris nunca conseguimos trabalho estável, apesar de recebermos solidariedade de muitos”, diz Bruno. “Essa instabilidade, que atinge mais fortemente os estrangeiros mais velhos, dificulta nossa integração.”



A vida de refugiado é dura, segundo o casal. No primeiro ano em Paris, em 2006, Bruno compartilhou com sua família um espaço de apenas 30 metros quadrados . No ano seguinte, a situação piorou e os brasileiros dividiram um pequeno apartamento com outras famílias de refugiados, cada uma em um quarto, sem espaços coletivos, em bairro de imigrantes. Havia na residência gente da Rússia, do Tibete e Sri Lanka. “Não reclamo dos ratos que tive que matar neste apartamento, do banheiro coletivo usado por 11 pessoas que lavei todos os dias”, desabafa Marilena. “Reclamo, sim, do direito que me tiraram de viver em meu país.” Ela conta que alguns vizinhos de outros países não conseguiram garantir o refúgio e tiveram que voltar para a sua terra de origem, onde acabaram assassinados. Desde janeiro, eles passaram a morar numa casa na periferia, emprestada por amigos. “O refúgio é algo muito mais dramático do que eu poderia imaginar”, afirma Bruno.



O casal diz que o pedido de refúgio foi pensado a partir da morte de testemunhas do caso Celso Daniel. O último dos oito assassinatos ligados ao caso do ex-prefeito foi o do legista Carlos Delmonte Priante, que descartou crime comum e sustentou que Celso foi brutalmente torturado antes de ser executado. Vieram, então, as ameaças à família, que posteriormente foram detalhadas ao governo da França, sob compromisso de sigilo, para reconhecimento do refúgio. Mesmo vivendo em Paris, Bruno conta que “coisas muito estranhas” acontecem, como a demora de até três meses para receber correspondências, além de e-mails que tardam a chegar. O e-mail é o único tipo de comunicação segura do casal. “Há cerca de dois meses recebemos de um amigo jornalista uma correspondência cujo envelope chegou todo rasgado, a ponto de o correio francês colocar num saco plástico transparente, que nos foi enviado”, diz Bruno. “Paranoia?”, questiona.



No pedido de asilo ao governo francês, Bruno afirmou que a permanência da família no Brasil ficou insustentável a partir de outubro de 2005, quando ele e o irmão João Francisco confirmaram na CPI dos Bingos, no Senado, que tiveram conhecimento de esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André, envolvendo arrecadação de propina para o PT. “Passamos a receber ameaças, a conviver com seguranças armados, porém amedrontados. Quase toda a nossa rotina ficou de pernas para o ar”, diz Bruno. “Quando as ameaças começaram a ser dirigidas aos nossos filhos, a vida se tornou insuportável no Brasil, foi um verdadeiro terror.”



A opção mais segura foi o refúgio na França. Lá, a família ganha dinheiro fazendo bicos. Entre os trabalhos que o casal encontra em Paris estão tarefas temporárias em secretarias de universidade para passar notas de alunos ou telefonar aos docentes para informar sobre falta de documentos. Também executam tarefas triviais como levar papéis de um lado para o outro. No Brasil, Bruno era professor de economia. O casal não pode retornar ao País, pois perderia o direito ao refúgio, de acordo com as condições impostas pelo Escritório Francês de Proteção de Refugiados. Com isso, eles não conseguem nem visitar os parentes doentes. “Você me pega num momento particularmente difícil. Um de meus irmãos está com câncer, passou pela UTI esta semana e ainda está hospitalizado”, diz Marilena. “Sabe o que é ter uma pessoa da sua família doente e você não poder estar ao lado dela?” Em 2006, o irmão mais velho de Marilena morreu no Brasil e ela não compareceu ao velório. Em 2008, a mãe de Bruno faleceu e ele também não acompanhou o velório.



“Não reclamo dos ratos que tive que matar neste apartamento nem

do banheiro coletivo usado por 11 pessoas que lavei todos os dias”

Marilena Nakano



O que Marilena considera mais injusto é sua família ser obrigada a sofrer as agruras do exílio na França, enquanto o Brasil consolida o regime democrático. Para ela, a dor é ainda maior quando não se sabe exatamente quem são os “inimigos” da família. “Nesse nosso exílio há algo que nos dilacera: a existência da dúvida de onde partiram as ameaças. Elas podem ter vindo de pessoas do crime organizado, podem ter vindo de pessoas que conhecíamos, antigos companheiros”, diz Marilena. O casal não quer polemizar com outros parentes do ex-prefeito Celso Daniel que não concordam com a tese do assassinato de mando ou com o envolvimento de petistas históricos no crime. Preferem não recriminar Miriam Belchior, ex-mulher de Celso Daniel, que é coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento na Presidência da República. Questionado sobre a opção de Miriam de assumir um cargo na Casa Civil, Bruno responde: “Quanto à Miriam Belchior, acho mais adequado fazer a pergunta a ela. Isto envolve uma posição política que Miriam escolheu.” Procurada por ISTOÉ, Miriam não quis falar sobre o assunto.



Importantes autoridades em direitos humanos concordam que o assassinato de Celso Daniel não foi devidamente solucionado. O advogado da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Augustino Veit, diz que não há justificativa para o Brasil ter cidadãos refugiados no Exterior e defende investigação profunda da morte do ex-prefeito. “Não há como botar uma pedra em cima daquilo que não foi esclarecido; a verdade fica sempre pairando”, afirma Veit. Para o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, o pedido de refúgio não significa que o casal tenha sido perseguido pelo Estado. “Perseguição pelo aparelho de Estado? Não necessariamente”, diz o ministro.



Bruno José Daniel e Marilena Nakano insistem em uma investigação independente e aprofundada. E pedem que a Justiça marque logo o julgamento do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, um dos acusados de envolvimento no crime. Mas acreditam que há interferências poderosas para que isso não ocorra. “Podemos supor que as articulações que impedem que o caso avance e que nos fizeram sair do País envolvem diretamente petistas e não petistas membros do Executivo e do Legislativo e talvez sua influência no terceiro Poder, o Judiciário.”
 
Recebi por email do amigo MANOEL CARLOS PINHEIRO,do AGRESTINO .
 

PAZ & BEM !!!