VALE À PENA LER
O conselho de sentença que considerou culpado o réu Marcos Roberto Bispo dos Santos, condenado a 18 anos de prisão em regime fechado, acolheu por unanimidade todos os seis quesitos formulados por Cembranelli. Um deles pedia que o júri, composto por cinco mulheres e dois homens reunidos no Fórum de Itapecerica da Serra, na quinta-feira, se manifestasse sobre a tese de que o crime foi cometido mediante paga e promessa de recompensa.
É de fato inverossímil que a captura de Celso Daniel tenha sido iniciativa de uma quadrilha especializada em sequestrar pessoas de posses para obtenção de resgate. Na versão da Polícia, os sequestradores teriam confundido o prefeito com um empresário que atuava na Ceagesp. Decidiram executá-lo ao descobrir, pelo noticiário da TV, a identidade de sua presa. À época, Daniel coordenava o programa de governo do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva e era tido já então como nome certo para o seu eventual Ministério.
Ao percorrer diligentemente os meandros da tragédia, o Ministério Público encontrou um crime dentro de outro. Tratava-se do esquema de cobrança de propina de empresas que prestavam ou desejassem prestar serviços ao município. A operação - de que o prefeito estava perfeitamente a par - era capitaneada pelo seu ex-segurança e amigo próximo Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Daniel se insurgiu contra o esquema apenas quando soube que parte do butim era embolsada por Sérgio Gomes e associados. Todo o produto das extorsões deveria ser repassado ao PT para forrar o caixa 2 do partido.
O peculiar senso ético de Daniel - que decerto ele compartilhava com muitos companheiros, dado o que se passava e viria a se passar em outras prefeituras controladas pela legenda - custou-lhe a vida. Os procuradores apuraram que, diante da decisão do prefeito de pôr fim ao pedágio espúrio no município, Gomes resolveu eliminá-lo. A Polícia, embora dissociasse uma coisa da outra, não contestou as evidências de corrupção recolhidas pelo Ministério Público. Nem poderia.
Conforme o testemunho dos irmãos de Daniel, o Sombra entregava o dinheiro ao secretário de governo de Santo André, que se incumbia de levá-lo ao presidente do partido. O secretário era Gilberto Carvalho, que viria a ser chefe de gabinete do presidente Lula e seu mais íntimo colaborador. Ele figura como réu em um processo por improbidade administrativa no município. O presidente do PT era o deputado José Dirceu, que viria a ser o "capitão do time" de Lula. Além de ter cassado o seu mandato parlamentar, está sendo processado como principal articulador do mensalão.
No julgamento dessa semana, o promotor destacou que as somas extorquidas em Santo André se destinavam a abastecer campanhas petistas, "inclusive na primeira eleição do presidente Lula". Segundo ele, "o PT depositava todas as fichas naquela campanha. Os recursos passaram a ser captados de maneira mais portentosa". Ele abordou ainda um aspecto do caso que até aqui não parecia claro: por que, antes de matá-lo, os sequestradores torturaram o prefeito nos dois cativeiros para onde foi levado? A sua execução não seria suficiente para o que o Sombra teria pretendido?
Daniel foi seviciado, apontou Cembranelli, para que revelasse onde estava um dossiê, presumivelmente compilado por ele, "com informações contra integrantes do PT". Não se sabe o que foi feito da papelada. Mas o promotor lembrou que Gilberto Carvalho foi visto em companhia de outro petista, o vereador Klinger Sousa, saindo do apartamento do prefeito no dia seguinte ao sequestro. "Celso Daniel foi varrido por uma trama macabra", afirmou Cembranelli. "Virou obstáculo, um estorvo." Talvez não apenas para os Sombras.
( Editorial publicado no ESTADÃO no último domingo,21 de novembro )
8 comentários:
Parece até a trama de um livro... A gente pensa que está tão distante dessas coisas qd, na verdade, elas estão bem mais próximas do q parece.
BJs.
Dozinho lindo,como vc sempre diz: isto é uma grande quadrilha.É um absurdo que até hoje este crime não tenha sido elucidado.
Eu vi a entrevista do promotor Cembranelli na tv e ele falou mesmo com todas as letras sobre o envolvimento do PT neste crime.
Achei ele muito corajoso.
Beijinhos estalados.
Meu anjo,o promotor fez muito bem seu trabalho. Mas não duvido que esteja recebendo grande pressão do PT.
Este caso mostrou bem do que esta gente é capaz .
Bjo
Prezado DO
Nossa justiça deu uma resposta a quem a considera "injusta". Demorou,mas a sociedade recebeu uma resposta a um crime tão barbaramente realizado.E ainda tem o do Toninho,prefeito de Campinas,tambem morto na mesma época,certamente pelos mesmos motivos.
Engana-se porém quem considera que Celso Daniel morreu por ter descoberto o esquema de caixa 2.
Ele sabia do esquema e foi um de seus idealizadores.O PT precisava de grana alta na campanha de 2002,e ele era um dos coordenadores ,pra não falar no homem do dinheiro .O que ele não queria,porém,é que seus companheiros aproveitassem tambem para enriquecer às custas das doações. E quando envolve dinheiro no bolso,meu caro,o resultado foi o que sabemos: eliminaram os dois prefeitos.
É verdade que caixa 2 é algo que todo mundo faz,em qualquer partido.Isto não é exclusividade do PT. Mas os crimes que seus membros cometem além deste é que choca e decepciona seus milhões de admiradores e filiados.
Abraço
Do,
ninguém está livre de ser vítima de um crime desse porte. A mundo anda, cada dia mais, mergulhado em Sombras e mais Sombras...
Deus nos proteja por que, da Justica dos homens, ando totalmente descrente.
bjs e dias felizes
Grace Olsson
Uau... Imagino a pressão que as pessoas vem sofrendo dos poderosos... E ninguém tá vendo??? Ninguém mesmo???
Beijos!
Entre lulistas, os éticos são os que roubam para o PT. Delúbio Soares confessou que lidou com "receitas não contabilizadas", sempre se reportou diretamente a Lula e é um herói para a companheirada.
Quando foi noticiado que Sílvio Pereira recebeu um presente de oitenta mil dólares, sem conhecimento do comando partidário, ele se desfiliou do partido no dia seguinte.
Manoel Carlos
Cara, não se cria algo bom partindo de um roubo...
Fique com Deus, menino Do.
Um abraço.
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